quinta-feira, 13 de setembro de 2012

É cor-de-rosa choque

Revista Fúcsia, da Bio Extratus: acerto no nome e no formato


Chegou uma nova revistinha para a minha coleção de customizadas: a Fúcsia, da Bio Extratus. Minha irmã a ganhou na Beauty Fair, feira de cosméticos que aconteceu em São Paulo no fim de semana. Eu não conhecia a marca nem a revista, mas a Bio Extratus é uma empresa de produtos para o cabelo e a Fúcsia é uma revista desenvolvida pela Editora 2X1 para eles.

De forma geral, a revista não tem nada de excepcional e cai naquela questão do projeto editorial amplo e com pouca alma da marca revelada que comentei quando fiz a breve análise da revista da Opaque. No entanto, tem alguns pontos positivos que acho que vale a pena destacar. O nome é ponto forte: Fúcsia, superfeminino e forte ao mesmo tempo. Transmite a impressão de coisa feita pensando especificamente na mulher, cliente majoritária da marca, penso. As mulheres têm a capacidade de entender as várias nuances de uma cor e nomeá-las. Descrever um vestido como verde nunca é suficiente, ele pode ser verde bandeira, verde militar, verde abacate, verde pistache, verde musgo, minted, verde oliva, verde água...e uma infinidade de cores que fogem do repertório masculino. Vejam bem, não quero subestimar ninguém, mas acredito que poucos homens sabem que fúcsia é um tom de rosa bem forte e isso dá a impressão de que a revista é feita para uma sociedade secreta dos seres que conseguem enxergar e nomear uma paleta infinita de cores.


Ela também tem um formato de bolso que eu particularmente gosto. Dá para levar na bolsa sem problema, manusear com tranquilidade em qualquer espaço. Em relação ao conteúdo, também percebo que existe ainda que muito sutilmente a intenção (que me parece válida) de estabelecer conexão entre beleza e autoconfiança, como uma reportagem com dicas de Reinaldo Polito para a mulher dominar as técnicas de falar em público. Podia ser mais, mas também podia ser bem menos. Ficou na média.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O custom content de Clarice


Clarice Lispector tinha contrato com a Ponds para escrever as colunas femininas do Correio da Manhã assinadas por Helen Palmer


Sou fã declarada da Clarice Lispector. Já li muitos livros, contos e biografias. A cada leitura me sinto mais fascinada. Estou fazendo uma pesquisa para um projeto que estou desenvolvendo. Preciso consultar colunas femininas da década de 50 e, nestas buscas, descobri que a Clarice, minha ídola, também fez custom content.

A escritora trabalhou também como jornalista e assinou colunas femininas de amenidades na revista Comício e nos periódicos Correio da Manhã e Diário da Noite. Para não ter o trabalho como colunista associado aos seus livros, Clarice criou três personagens e desenvolveu a personalidade delas para assinar as colunas. Assim, Tereza Quadros, Helen Palmer e Ilka Soares ganharam vida e tornaram-se íntimas das leitoras. No livro "Correio Feminino" (Editora Rocco), a doutora em literatura brasileira Aparecida Maria Nunes observa no prefácio que como Helen Palmer, da seção Correio Feminino do jornal Correio da Manhã, Clarice não tinha tanta liberdade para escrever os textos de moda, culinária, beleza, postura e comportamento da mulher, pois assina contrato com o departamento de relações públicas da Pond's para divulgar os produtos de forma subliminar e criar hábitos de consumo nas leitoras. Foram 128 colunas publicadas no período de agosto de 1959 a fevereiro de 1961, em que Clarice tinha como base os releases da Agência Periodística Latino-Americana (Apla).

Eu tenho um livro sensacional, "Só para Mulheres" (Editora Rocco), que reúne algumas das colunas da Clarice. Vou reproduzir aqui uma que ela escreveu como Helen Palmer:

A Máscara da Face
Os cosméticos são um bem ou mal? - Na era como esta em que vivemos, em que tudo é feito à base de aparência e anúncio, com o domínio completo da publicidade, os cosméticos adquiriram muita importância para as mulheres e para o mundo em geral.
Cada ano aparece um novo tipo, que se consegue conjugando vários cosméticos, onde incluem lápis de sobrancelhas, rímel para os olhos, bastão para os lábios e os pancakes. Um ano são os lábios que devem aparecer bem pintados, vermelho vivo, provocando a admiração de elementos masculinos. No outro ano, são os olhos que crescem em importância, eclipsando o resto do rosto, e deixando-o esbatido e vago. As mulheres acompanham docilmente os ditames da moda, procurando fazer-se belas segundo os últimos figurinos.
Estará errado tudo isto? Não irá aí muito exagero, muito pretexto para ganho de dinheiro por parte dos negociantes, e lançadores da moda? Não está sendo explorada a vaidade feminina e orgulho masculino para que os fins sejam conseguidos?
Acreditamos que o meio-termo, como sempre, é a melhor atitude a tomar, nesse assunto. Nem exageros de pintura, seguindo rigorosamente a moda, nem o desleixo, a falta absoluta de maquiagem, deixando a descoberto um rosto pálido, em contraste com os radiosos rostos que se pintam. A mulher deve se conservar numa atitude de discrição, embora se pinte e procure ser bela, pois não há nada mais encantador que uma bela mulher vestida com roupas elegantes e modernas, mostrando o mais amável dos sorrisos! É mesmo um céu em vida!


Não sei se a Ponds se deu conta na época, mas com certeza é motivo de muito orgulho para uma marca ter um nome como o de Clarice Lispector por trás de seu custom content. Claro que não é a romancista que aparece nas colunas, mas percebe-se a mulher de classe, elegância, escrita simples e precisa que está por trás dos textos. 
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